Em meio aos desafios enfrentados pelo setor pecuário na região semiárida do Nordeste brasileiro, pesquisadores do Observatório Nacional da Dinâmica da Água e do Carbono no Bioma Caatinga (OndaCBC), ligado à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), apresentaram avanços significativos no monitoramento da vulnerabilidade alimentar dos rebanhos pecuários na área.
Denominado "PecuriAdapta", o sistema desenvolvido pelo OndaCBC utiliza tecnologias avançadas, como sensoriamento remoto, geoprocessamento, computação de alto desempenho, e dados coletados em trabalho de campo. O objetivo é estimar a oferta e demanda de forragem em cada município da região semiárida, levando em consideração diferentes cenários de precipitação para o ano seguinte.
O sistema visa, sobretudo, auxiliar os pecuaristas e instituições governamentais na tomada de decisões, possibilitando que as instituições envolvidas no setor pecuário possam realizar, com antecedência, ações interativas junto aos setores produtivos, meses antes da ocorrência das crises observadas nos anos de seca extrema.
Os pesquisadores apresentaram um relatório em junho de 2023, incluindo o monitoramento da região semiárida de Pernambuco, avaliando a possibilidade de 03 (três) possíveis cenários de chuvas em 2024.
1) Otimista: caso a precipitação em 2024 seja em torno da média histórica;
2) Seco: caso a precipitação em 2024 fique em torno de 30% abaixo da média histórica; e
3) Extremo: caso a precipitação em 2024 fique em torno de 60% abaixo da média histórica (semelhante ao que ocorreu em 2012, no início do último período prolongado de secas na região semiárida).
Embora não restem dúvidas sobre o poder devastador que seria instalado para os pequenos e médios produtores pecuaristas do semiárido nordestino, em se confirmando o cenário Extremo, os pesquisadores alertam que:
“mesmo se nos próximos 12 meses houver precipitação em torno da média, alguns municípios ainda não terão forragens suficientes para sustentar os rebanhos, principalmente nas microrregiões das bacias leiteiras”. [...] “Em um cenário de ano seco, ou seja, se as chuvas forem 30% abaixo da média histórica, a maior parte dos municípios não terá produção de forragem suficiente para alimentar o rebanho atual. Nesse cenário, em média na região semiárida de Pernambuco, haverá produção de forragem para alimentar somente 78% do rebanho atual”.
Ou seja, estamos diante de um cenário em que grande parte da região semiárida de PE poderá apresentar baixa produção de forragem, ocasionando grave impacto negativo ao setor produtivo pecuarista, contribuindo para a perda de peso e morte de animais, podendo, ainda, vir a desestruturar a cadeia produtiva do setor, além de outras consequências econômicas e sociais pertinentes, pois, muitos produtores têm em seu rebanho a base de seu sustento familiar.
Com base nessas informações, o Vice-coordenador do OndaCBC, Prof. Rômulo Menezes, se reuniu na última sexta-feira, 01/12/2023, na Secretaria de Desenvolvimento Agrário, Agricultura, Pecuária e Pesca do Estado de Pernambuco, juntamente com o pesquisador do Observatório, Ivson Santana; do pesquisador do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), Josimar Gurgel; e da Equipe da Biorrefinaria Experimental de Resíduos Sólidos Orgânicos (Berso), Manoel de Castro e Luiz Carlos Alfino, onde foram recebidos pela Secretária de Estado, Ellen Viégas.
Os estudos apresentados pelo Prof. Rômulo Menezes, por meio do Sistema PecuriAdapta, oferecendo informações relevantes para minimizar a vulnerabilidade alimentar dos rebanhos pecuários na região semiárida do NE do Brasil foram vistos com entusiasmo pela secretária estadual, que solicitou dados detalhados para avaliar a viabilidade de implementação do sistema.
É importante frisar, que os atuais estudos sobre o clima assinalam para um cenário de mudanças climáticas que apontam para um clima cada vez mais seco, e as ações preventivas são de extrema importância para minimizar efeitos devastadores e de grandes prejuízos em todas as áreas envolvidas.
O PecuriAdapta, portanto, possibilita apresentar informações para “avaliar a capacidade de oferecer forragem ao rebanho e, se necessário, redimensionar o rebanho para áreas com menor vulnerabilidade”, ou estocar forragem ao final do ciclo de chuvas de um ano, para poder alimentar o rebanho em caso de escassez de chuvas no ano seguinte, contribuindo para um planejamento e gerenciamento das ações. Assim como [...] “aproveitar momentos de bons preços de compra e venda de animais praticados pelo mercado”.
São ações estratégicas que precisam ser coordenadas pelo poder público em diferentes esferas de governo, em parceria com as Instituições de Pesquisas e, em interação com os produtores locais e demais áreas/setores produtivos, para que os resultados sejam os mais promissores possíveis, diante os desafios que se têm pela frente para adaptação às vulnerabilidades a serem enfrentadas no próximo período de seca no semiárido nordestino.
Redação por Luiz Carlos Alfino
Imagem por Manoel de Castro
Comments